Esta peça, mais do que adaptada, foi extraída do romance de Wilfried N'Sondé intitulado Um Oceano, Dois Mares, Três Continentes, sobre a atribulada viagem física e espiritual empreendida no início do
século XVII por Nsaku Ne Vunda, desde uma perdida aldeia no interior do Reino do Kongo até à Sala Regia do Vaticano.

Ne Vunda, baptizado Dom António Manuel no momento da sua ordenação como padre, foi o primeiro embaixador africano junto da Santa Sé,
onde morreu vítima de doença poucos dias depois de lá ter chegado. Impressionado pela sua terrível odisseia, o Papa Paulo V ordenou que fosse sepultado na Igreja de Santa Maria Maior, em Roma, nomeou-o
a título póstumo Marquês de Funesta e mandou fazer o seu busto em mármore negro, o que levou a que começassem a tratá-lo por «Negrita».

As falas das personagens e as situações da peça são todas resgatadas do romance, com excepção da curta cena na Corte espanhola, inspirada numa carta que o próprio Ne Vunda escreveu ao Papa.

JOSÉ MENA ABRANTES, nascido em Malanje, é licenciado em Filologia
Germânica na Faculdade de Letras de Lisboa. Nessa cidade iniciou, em 1967, a sua actividade teatral, no grupo cénico da Associação Académica da Faculdade de Direito. Fez na Fundação Gulbenkian
cursos de actuação e direcção teatral, sob direcção do argentino Adolfo Gutkin.
Em Louvain/Bélgica, seguiu seminários de análise dramatúrgica e cenografia, orientados pelos franceses Bernard Dort e Denis Bablet. Na Alemanha, dirigiu o grupo La Busca, de estudantes e trabalhadores espanhóis. De regresso a Angola, em 1974, foi co-fundador do Tchinganje, primeiro grupo teatral depois da Independência, e do Xilenga. Dirigiu também o grupo da Faculdade de Medicina e criou, em 1988, o Elinga-Teatro, de que é director. Jornalista e escritor, publicou 19 peças de teatro, três livros de poesia, três de ficção e vários estudos sobre teatro e cinema em Angola. É membro da União
de Escritores e da Academia Angolana de Letras. Venceu por três vezes o Prémio Sonangol da Literatura (1986/1990/1994). Recebeu, em 2006, o Diploma de Mérito do Ministério da Cultura, pela sua «significativa contribuição ao desenvolvimento da dramaturgia em
Angola», e, em 2012, o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Literatura.