Em 1921, três jovens portugueses Arnaldo, Costa e Lelo, decidiram criar uma empresa que tomou o nome de Arnaldo, Costa & Lelo, Lda com sede no Porto - Portugal.
Carregados de sonhos, Portugal cedo se tornou complexo para eles pois a incerteza e as perseguições políticas reinavam e o dia a dia de muitos jovens era de uma frustração permanente.
Entenderam que a Colónia de Angola lhes podia dar a liberdade de expressão que achavam ter direito assim como a oportunidade de prosperar.
Familiar e amigos de uma das livrarias de referêcia de Portugal, a Lello, (hoje considerada quase um Monumento Nacional Português), alteram em 1923, o nome da empresa para Lello & Companhia, Lda.
O gerente efectivo da Empresa em Angola foi nomeado Raul Pinto de Mesquita Lello.
Cumprindo o plano, a Lello & Companhia, Lda torna-se depositária de livros LELLO de Portugal.
Raul Lello, chegado a Angola, quase sem dinheiro e sem instalações, guarda os livros que trouxe e foi importando, numa moradia situada no Largo da Mutamba junto ao balneário que até cerca de 2016 existia em frente ao antigo Castro Freire, Lda.
Com o melhorar da situação abre uma pequena livraria, no edifício Biker, edifício este que, então, era referência obrigatória da cidade de Loanda e praticamente o Centro da cidade na Época!
O edifício Biker possuía uma arquitectura de arcadas grossas, típicas do Século XVIII/XIX e que ainda hoje se pode observar nas instalações de esquina do edifício, onde se situa a empresa Foto Ngunfo.
Em meados da década de 1940, princípios da década de 1950, o edifício Biker é remodelado e fica com o aspecto que hoje tem.
Rapidamente a Lello & Companhia, Lda. tornou-se uma referência da então colónia de Angola.
Em 1936 o primeiro reclame Lello foi alvo de publicação na revista Actividade Económica de Angola cujo director artístico era Vasco Vieira da Costa, fundador da Faculdade de Arquitectura de Angola.
No ano de 1940 começa a construção do edifico Lello conhecido por Palácio da Pena, devido ao apelido da sua proprietária, Sra. Pena Buturão, e para a qual se muda a Livraria Lello que aumeta o leque de produtos e passa a vender também material escolar e a representar marcas como Pelikan e Kern. Foto do edifício antes de depois
A Loja do Edifício Biker, hoje Av. Rainha Ginga 15, fica a funcionar apenas o pequeno braço da empresa que tinha como função vender Lotarias e alguns outros pequenos serviços, passando esta loja a ter o nome de Casa Feliz.
Cliente Lello a sair da Casa Feliz
Apostando forte na então nascente vulgarização do processo educativo de Angola, tornou-se fornecedora de excelência a toda a camada intelectual da Colónia.
Claro que, Portugal na época era um país de regime ditatorial e este sucesso também trouxe olhares amargos; A Lello & Cia, Lda. e os seus proprietários ficaram debaixo de olho das organizações de Segurança Portuguesas e cedo começaram alguns dissabores.
Policias secretos portugueses a vigiarem a Lello
Nos meados dos anos 60 a Lello decidiu mudar a sua forma de actuar e como tal, criou uma nova empresa, Lello, SARL, a qual assumiu toda a Área comercial da Organização e reduziu a actividade da Lello & Cia, Lda para a pequena unidade de negócios designada de Casa Feliz.
O edifício Palácio da Pena foi posteriormente ampliado para o lado da esquadra da Polícia e nesse espaço abrem as áreas de Papelaria, Venda de Discos e de Produtos Olivetti.
Inicialmente a linha Olivetti da Lello apenas contemplava a gama de Máquinas de Escrever e Calculadoras onde concorria com os líderes do mercado, Messa e Olympia em Máquinas de escrever e Facit e Cannon em máquinas de calcular. ..
A capilaridade da Lello no País, caracterizou-se pela presença com lojas nas cidades de Luanda (Luanda Marginal e Luanda-Casa Feliz), Benguela (Lobito), Lubango e Huambo e ainda um conjunto de outras livrarias / tabacarias / papelarias que se abasteciam na Lello e que revendiam os seus produtos em praticamente todo o território nacional, sendo a marca Lello, uma referência nacional.
Com a independência o director da Livraria, Sr. Felisberto Lemos, mantem-se no país, numa inversão ao abandono generalizado dos então chamados "colonos e seus caixotes"; Esta decisão não é estranha pois, Felisberto Lemos, estava muito ligado ao 1º Presidente da República de Angola, Dr. Agostinho Neto, desde a presença deste na cidade de Coimbra em Portugal.
O 25 de Abril de 1974 e posteriormente a independência de Angola em 1975, provocaram alguns problemas na operacionalidade de ambas as Lellos as quais, se mantêm fruto do esforço individual de uma massa de trabalhadores dedicados que conseguiram manter-se sem encerrar as portas e sem conflitos laborais, típicos da época.
O sistema económico adoptado por Angola após a independência, designado de Economia Socialista Planificada criou as chamadas empresas estatais (representando mais de 90% da economia), empresas mistas e manteve as empresas privadas que fizeram prova de existência e de permanência dos seus proprietários no país.
Todas as empresas que fizeram prova da presença em Angola dos seus proprietários, não foram nacionalizadas / confiscadas e passaram a fazer parte do todo económico do país, integrado no mesmo perfil do sistema de Economia planificada.
A Lello & Companhia, Lda. e a Lello, SA, tendo feito prova da presença dos seus proprietários em Angola passaram a fazer parte desse todo.
Dentro deste novo sistema, e sobretudo a partir de 1980, a importação de quase todos os produtos passou a ser do pelouro de empresas públicas específicas, no caso a Maquimport, UEE e a Lello passou a ser uma das suas distribuidoras onde a marca OLIVETTI passou a ter uma preponderância bastante grande; Já a nível de livraria houve bastantes mais problemas pois os livros a importar e produzidos no país tinham limitações na variedade e tipo.
Esta preponderância tecnológica, cria novas oportunidades onde é de salientar o papel que a Lello teve na Área de equipamentos de escritório com a introdução da Máquina de Contabilidade BCS 30, única concorrente em Angola da então NCR32 e mais tarde da NCR299, sistemas percurssôres dos sistemas informáticos, hoje banais em todo o Mundo.
Felisberto Lemos, sendo português, foi entretanto expulso de Angola por um mal entendido que existiu por altura do 27 de Maio de 1977. Foi substituido por uma das proprietárias da empresa, Sra Leonor Lello, angolana que entretanto havia terminado a sua formação no exterior de Angola.
Com o evoluir da guerra, a idade dos seus proprietários e a dificuldade na contratação de pessoal qualificado, as várias filiais da Lello foram fechando, finalizando com a venda da Sede "Palácio da Pena" em 2015.
Aparece então Rui M. Santos, empresário angolano que criou a primeira empresa privada angolana após a independência, onde após negociações adquiriu as empresas Lello, SA e Lello & Cia Lda, algum do património assim como os direitos sobre a pequena loja Casa Feliz, sita no emblemático Edifício Biker.
Com imagem renovada, esta nova Lello vai tentar re-erguer-se e refazer-se !
Basicamente Rui Santos não quis aceitar que uma marca com mais de 90 anos deixasse de existir e que todo o seu pessoal fosse demitido.
Reuniu também com os trabalhadores com o objectivo de numa primeira fase manter a empresa aberta e numa segunda fase ver como a poderia fazer crescer.
Os trabalhadores aceitaram o desafio e uniram forças para tentar fazer renascer a marca e voltar a reposicioná-la no local de destaque de onde não devia ter saído.
Na reunião com os trabalhadores foi apresentado o novo logo e as mascotes da empresa assim como a discussão de ideias e intenções futuras.