Enquanto a maior parte dos estadistas portugueses e muitos
estadistas americanos e europeus aceitaram a validade das asserções luso-tropicalistas de tolerância racial nas colónias, um número importante de angolanos pretos, mestiços e brancos condenaram o luso-tropicalismo como um mito cruel perpetrado para cegar o mundo às realidades de opressão e exploração racial.9
Atacaram sobretudo as doutrinas do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre – o «pai» do luso-tropicalismo – e aqueles que aprovavam as suas teorias por insistirem nas ligações sexuais inter-raciais enquanto ignoravam os factores económicos e políticos.
Em meados da década de cinquenta, Mário Pinto de Andrade afirmava: «O luso-tropicalismo, não sendo válido para explicar a formação do Brasil, é inteiramente falso para as circunstâncias coloniais em África10.»
Estes críticos frisavam que era necessário ir além dos objectivos e aspirações da ideologia portuguesa sobre relações de raça
e observar as vidas diárias dos negros nas colónias. Mencionavam o facto de que, após quinhentos anos de colonialismo, menos de um por cento dos africanos em Angola eram considerados «civilizados» ou «assimilados» sob a lei portuguesa (pré-1961) e perguntavam se isto se poderia conciliar com a pretensão de Portugal ao sucesso da sua «missão civilizadora». Realçavam a ausência de africanos e mestiços em todas as posições importantes, nos sectores privado e público da sociedade colonial, como também a sua minúscula representação nos níveis superiores do sistema educacional, e perguntavam que esperanças havia para o futuro daqueles que não eram brancos. Além disso, forneciam provas que documentavam o incessante uso de trabalho forçado, da prática difundida de expropriação de terras africanas, de prisões de torturas arbitrárias e até mesmo de massacres de aldeias inteiras, e perguntavam se isto fazia parte da «civilização» que eles deviam assimilar. Numa palavra, enquanto os movimentos de libertação atacavam o exercito português no campo
de batalha, eles e os seus adeptos desafiaram o povo português
e todos os estrangeiros interessados a medir as pretensões do
luso-tropicalismo com as realidades sociais, económicas e políticas de mais de noventa e cinco por cento da população que não era branca. Os guerrilheiros não confiavam menos do que os portugueses de que os observadores e historiadores honestos haveriam de justificar as suas reivindicações 11.
GERALD BENDER nasceu em 1941. Em 1963 conclui o Bacherelato na Universidade de Minnesota e o Doutoramento (PhD) em Ciências Políticas, em 1975, na UCLA - Universidade de Califórnia em Los Angeles.
A primeira vez que esteve em Angola foi em 1968, tendo aqui permanecido durante um ano, durante o qual realizou a pesquisa para o presente estudo.
É Professor da cadeira de Relações Internacionais da Universidade de Califórnia do Sul, desde 1979. É, desde 1986, Presidente da Associação dos Estudos Africanos da América do Norte,com mais de 30 artigos publicados nos mais importantes jornais do Estados Unidos da América como o " The New York Times, New Washington Post e Los Angeles Times" sobre a Política Americana em África.
Dele diz John Stockwell (1978):" A pessoa que parou a minha guerra em Angola foi o professor Jerry Bender."
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Copyright: ©Gerald J. Bender /Mayamba Editora, 2013
1ª edição: Editorial Nzila, 2004
2ª edição: Editorial Nzila, 2009
Colecção: Biblioteca da História
Título: Angola Sob o Domínio Português – Mito e Realidade
Autor: Gerald J. Bender
Editor: Arlindo Isabel
Edição: Mayamba Editora, 2013
Rua 3, n.º 231, Urbanização Nova Vida
Município de Kilamba Kiaxi – Luanda-Sul/Angola
Cx. Postal 34 62
E-mail: mayambaeditora@yahoo.com
Site: www.mayambaeditora.co.ao
Impressão e acabamento: Damer Gráficas, SA
1.ª Edição na Mayamba Editora: Luanda, Março de 2013
Tiragem: 1.500 Exemplares
Depósito legal n.º 5986/13
ISBN: 978-989-8528-39-1