Como é do conhecimento geral, as relações comunicativas no contexto
militar regem-se pelo princípio ordeno-e-mando (mando único). Nesta investigação, apoiamos de facto este tipo de relação, pois quaisquer Forças Armadas que se prezem jamais deverão dela prescindir.

Os cenários militares são diversos. No cenário combativo, a título de exemplo, o tempo e a rapidez constituem variáveis indispensáveis para o êxito de qualquer missão. O que contraria, sem dúvidas, o modelo comunicativo democrático. Nesse contexto militar, encontram-se várias unidades, de que se destacam as seguintes:

• Unidades militares mais orientadas para o combate;
• Unidades militares com um enfoque mais administrativo;
• Os estabelecimentos de ensino militares.

É no último caso que esta investigação se insere, pela preocupação com a utilização, de forma isolada, da relação comunicativa de ordeno-e-mando dos cenários mais combativos para o espaço de aula por parte de alguns professores desprovidos de uma formação psicopedagógica. Daí colocarem-se as seguintes questões, cujas respostas devem animar o debate pedagógico militar:

1) Será o estilo comunicativo de ordeno-e-mando o mais apropriado para o processo pedagógico militar?
2) Não lhe parece controverso colocarmos a questão acima, uma vez que o militar é preparado para a guerra? Ou, se quiséssemos ser mais diplomáticos, ou até eufemísticos, substituiríamos a palavra guerra pela expressão «defesa da Pátria»!
3) O aluno-recruta, militar, é preparado para a vida? Na nossa recruta havia uma expressão interessante estampada na parte frontal da escola militar: Forças Armadas, Escola da Vida.

Como se pode depreender, este debate mostra-se interessante.
A nossa actuação enquanto professor militar há mais de 20 anos, divididos entre a Escola Inter-Armas de Sargentos do Exército e a Escola Superior de Guerra (ESG) do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), leva-nos a mostrarmo-nos cautelosos, responsáveis e sábios ao tentarmos dar respostas às questões levantadas acima.

O facto de se estar numa instituição de ensino militar pressupõe, obrigatoriamente, que se veja a situação deste ângulo. Nesta óptica, pode-se, sim, aceitar a assunção, com toda a responsabilidade, do estilo comunicativo de mando único. Apesar de ser um estilo vertical, como veremos adiante no capítulo 1, é sustentado por regulamentos e com um enfoque humanista. Os militares são caracterizados por ordem, disciplinae respeito, valores de que
nenhumas Forças Armadas devem prescindir.

No entanto, está provado cientificamente que todo o processo pedagógico, quer seja militar ou civil, é comunicativo por excelência. Neste sentido, para um ensino mais proactivo e produtivo, deve-se promover a interacção e o diálogo entre todos os sujeitos que nele intervêm, tais como dirigentes,
docentes, professores, estudantes, o grupo-comunidade, condição sine qua non para a resolução dos mais variados problemas sociais. Neste processo coexistem várias relações comunicativas, como é o caso dos estilos participativo, democrático e assertivo. Salientamos, porém, que não existem no desenrolar de qualquer processo educativo estilos comunicativos puros, únicos ou isolados. O que se pode verificar é a predominância de um determinado estilo em detrimento dos demais, tendo em conta o contexto real. O momento deve ditar o estilo a adoptar numa determinada circunstância. O professor que alcança este nível está bem preparado e é detentor de competência comunicativa pedagógica.

GRABIEL VENTURA ARONE TCHIVELA - Oficial Superior das Forças Armadas Angolanas (FAA) com o grau de Tenente-Coronel, é Doutor em Ciências Pedagógicas pela Universidade de Ciências Pedagógicas "Enrique José Varona", República de Cuba; Mestre em Direcção do Processo Docente Educativo nas Instituições Militares de nível superior pelo Instituto Técnico Militar "José Martí", República de Cuba; Licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; Técnico Médio pela Escola de Formação de Professores "Comandante Liberdade", província da Huila.

No mundo das artes desempenha-se como compositor, cantor e músico-guitarrista.

É, actualmente, professor na Escola Superior de Guerra do Estado Maior General, onde leciona a cadeira de "Organização e Supervisão da Formação" nos Cursos de Comando e Estado Maior e de promoção à Oficial Superior desde 2009, e de Português no Curso de línguas ministrado aos militares de países amigos.