A minha é uma história trágica que eu, Flor de Mazozo, quis que fosse luminosa. Estes são os factos: estudei só até a 4ª Classe, fui uma comerciante próspera, o pilar económico de uma família com dez filhos. Sobrevivi ao tempo colonial, impus-me depois da independência, em toda a época de partido único. Tive bons reflexos e, de maneira sossegada, compreendi a lógica da economia do mercado, adaptando-me às transformações sociais do meu país e as do mundo.
Fui guerrilheira, viandante e já aconteceu estar adoentada durante muitos anos, coisa que eu nunca pensei que, também, pudesse ser um ofício. Algumas vezes, quando não tivesse nada importante que fazer, deixava-me estar, contemplando como uma voyeuse o mundo que me rodeia. Porém, o que eu adoro é ser borboleta, divagar sem sentido, estar sem juízo.
Bastou o meu casamento fracassar, ter que vender a boutique e a peixaria, sucumbi face às superstições: os meus filhos e os meus sobrinhos que até estudaram bem, um dia qualquer e nem sei por que carga de água chamaram-me de feiticeira. Para que não me linchassem ou para que eu não morresse de desgosto, preferi fingir-me de maluca. Os meus delírios, o que aconteceu comigo e com os meus, narradas por outros é o que, se abrirem as páginas deste livro, vocês lerão: foi testemunhando tudo que os meus filhos tornaram-se adultos, foi assim que eu me salvei.
Quando pássaros desenham arabescos em redor da minha cabeça, dançam no meu ventre seco e já sei que vou morrer amanhã, é aqui, e só mesmo aqui, na literatura, que eu aspiro à imortalidade.
ADRIANO MIXINGE (Luanda, 1968). Historiador, Curador e crítico de Arte.
Publicou os romances Tanda (Edições Chá de Caxinde. Luanda, 2006) e O Ocaso dos Pirilampos (Guerra e Paz. Lisboa, 2014), com o qual recebeu o Prémio Literário Sagrada Esperança (2013), o livro de ensaios Made in Angola: arte contemporânea, artistas e debates (Editions L`harmattan. Paris, 2009), onde reúne 35 ensaios sobre a arte africana contemporânea e a propósito da obra de alguns dos mais importantes artistas angolanos contemporâneos e O Beijo da Madame Ki-zerbo (Guerra e Paz. Lisboa, 2017) que reúne 36 crónicas publicadas no Jornal de Angola entre 1999 e 2007.
Actualmente, é um dos administradores executivos do Memorial Dr. António Agostinho Neto e articulista do Jornal de Angola, onde assina todas as terças-feiras a coluna “Na alva das ideias”.
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© Adriano Mixinge/ Mayamba Editora, 2020
Autor: Adriano Mixinge
Título: A Flor de Mazozo Ou a Festa dos Pássaros
Colecção: Nzadi
Editor: Arlindo Isabel
Edição: Mayamba Editora, Luanda-Angola Estrada do Calemba 2, Rua Rio Cuango, n.º 16, Condomínio Vila Rios, Distrito Urbano de Camama Município de Talatona – Luanda-Sul/Angola Caixa Postal 3462 Tel. +244 226 213 869||923878395| 927 216 231|911 564 614 E-mail: mayambaeditora@yahoo.com Site: www.mayamba-editora.com/ www.mayambaeditora.co.ao Facebook: Mayamba Editora
Paginação e Capa: Carlos Roque
Impressão e Acabamento: Imprimarte
1.ª edição, Luanda, Abril de 2020
Tiragem 1000 exemplares
Depósito Legal n.º 9372/2020
ISBN: 978-989-761-246-6
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