É meu dever, antes de tudo, felicitar o Professor Manuel Muanza por ter sabido magistralmente seleccionar esta apreciável recolha de falas e episódios, entre tantos depoimentos, palestras e entrevistas sobre a multifacetada personalidade de Agostinho Neto.
Deste modo, o autor conseguiu incidir o foco sobre instantâneos não menos relevantes da vida do Fundador da Nação e Herói Nacional, que na maior parte das vezes passam despercebidos aos leitores menos atentos.
No seu aparente laconismo, por via de regra carregado de afabilidade, Neto revela-se um fino observador, que nas suas introspecções mergulha até ao âmago das situações, delas emergindo com as mais lúcidas interpretações e verdadeiras lições de sabedoria, não raras vezes ornadas com pinceladas de humor e crítica social.
Este conjunto de textos reúne assim depoimentos de personalidades dos mais variados quadrantes políticos e socioprofissionais, desde companheiros de luta, amigos dos tempos de exílio, antigos presos políticos, jornalistas, diplomatas, enfim, algumas pessoas que lidaram mais directamente com António Agostinho Neto, com ele des-
frutando momentos de lazer ou intervalos em jornadas de
reflexão e trabalho.
A disparidade de circunstâncias desses contactos permite aquilatar o pendor humano e vincadamente social que norteou a existência de Neto e o seu nível de comunicabilidade, quando as ocasiões se proporcionassem, em círculos de amizade mais estreita.
É provável que a postura circunspecta de Agostinho Neto se tenha acentuado em consequência das várias sessões de interrogatório policial, isolamento e clausura a que foi submetido, durante as quais, fiel ao seu ideal libertário, se impôs a si próprio não resvalar para o abismo da delação dos camaradas, como sugere o seu poema “Assim clamava esgotado”, de que passo a transcrever um excerto:
(...)
não direi nada não sei nada
mesmo que me espanquem
não direi nada
mesmo que me ofereçam riquezas
não direi nada
mesmo que a palmatória me esborrache os dedos
não direi nada
mesmo que me ofereçam a liberdade
não direi nada mesmo que me ameacem de morte
(...)
Surge assim Agostinho Neto na plenitude da sua dimensão universal e ao mesmo tempo como homem simples e vertical, uno e múltiplo, solidário com os povos africanos e com todos os povos oprimidos do Mundo, trilhando “o caminho das estrelas”, cuja prisão e ausência no I Congresso dos Escritores e Artistas Negros, foi objecto de lamento e condenação.
Este importante evento, realizado na Sorbonne em Setembro de 1956, reuniu uma plêiade de intelectuais da África, América e Antilhas e foi denominada a “Bandung Cultural “, alcançando extraordinária repercussão em todo o Mundo.
Só com esta posição firme e consequente, ele foi capaz de retribuir o abraço recebido em tempos de cárcere de figuras proeminentes como Louis Aragon, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, François Mauriac, Nicolás Guillén, Diego Rivera e outros intelectuais de renome internacional.
Como afirma o professor Muanza, estas “Histórias Curtas “são lições de simplicidade transplantadas para o tempo presente, em que os comportamentos, os valores e a globalização alteraram a face do planeta, tornando-se necessário e urgente realinhar os actos e os sentimentos, de modo a reacender a chama da esperança que faz morada perene no coração do Homem.
Bem-haja, professor Manuel Muanza
Luanda, 12 de Setembro de 2020
Roberto de Almeida
O ORGANIZADOR
Manuel Muanza é professor associado no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) de Luanda. Doutorado em Literatura pela Universidade de Évora, mestre em Estudos Africanos pelo CEAUP da Universidade do Porto.
Pela Mayamba, o autor publicou as obras Mayombe – A saga dos guerrilheiros ou ficção narrativa da guerra (anti)colonial (estudo da historicidade do romance de Pepetela).
" Cadernos de Estudos Literários"
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Copyright: © Manuel Muanza | Mayamba Editora, 2022
Colecção: Especial Centenário de Agostinho Neto, 1922-2022
Título: Histórias Curtas da Vida de Agostinho Neto: lições de simplicidade para as gerações de governantes angolanos
Autor: Manuel Muanza
Prefácio: Roberto de Almeida
Editor: Arlindo Isabel
Revisão: Mayamba Editora
Edição
Mayamba Editora
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Município de Luanda — Luanda, Angola
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Site: www.mayamba-editora.com / www.mayambaeditora.co.ao
Design e capa: Carlos Roque
Impressão e acabamento: Unimater
1.ª edição, Luanda, Setembro de 2022
Tiragem: 1000 exemplares
Depósito legal: 10852/2022
ISBN: 978-989-761-397-5
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