Em Antropologia tem vindo a ser discutido que o campo escolhido para investigar não é neutro e depende sobretudo da história pessoal do antropólogo e das ligações que este tem com os sujeitos
objeto do seu estudo. A ideia de estudar as mulheres angolanas na
luta armada surgiu há uns anos, quando recebi um telefonema de
Luanda, de uma antiga camarada das fapla a lamentar-se que as
expectativas de vida que tinha criado no pós-independência não
se estavam a realizar. A minha amiga, Dra. Maria de Jesus Ferreira,
queixava-se de ter sido preterida no acesso a um lugar político a que aspirava na diplomacia em benefício de um militante do partido
do poder, o mpla, que não tinha participado na Luta de Libertação, e lamentava-se: Sabes quantas mulheres que lutaram estão nas
estruturas do poder, quantas decidem o destino do país? Sabes quantas mulheres que andaram de armas na mão estão abandonadas e na
miséria? Sabes que estamos a ser camfubadas1? E acrescentou: Porque
não vens a Angola estudar as mulheres guerrilheiras? És a pessoa indicada para isso! Numa lógica da recomposição das elites na pós-colonialidade em Angola, a minha amiga, aos 50 anos de idade, tinha
terminado a licenciatura há pouco e a consciência de que a nomeação das mulheres para lugares públicos era feita pelo poder masculino e por uma estrutura de desigualdade de género tinham-na levado a pensar que as antigas combatentes precisavam de legitimar os seus passados de guerrilheiras para se posicionarem na luta política. Staya Mohanty (1993) demonstrou que o princípio epistémico
da prática legitima experiências pessoais e identidades construídas
política e culturalmente na luta. O desejo de afirmação política da
minha amiga levou-a a prometer facilitar-me as complexas e difíceis
autorizações institucionais necessárias à investigação científica em
Angola, se aceitasse o desafio.
Regressei à universidade tarde, depois de ter priorizado outras
vidas, nomeadamente na Literatura. Cheguei à Antropologia após a
licenciatura em Estudos Africanos e reconheço que era uma outsider
na disciplina. No entanto, explorar a Antropologia para interpretar
o conhecimento cultural e social desta comunidade de ex-combatentes no feminino e resgatar as vozes e as memórias destas mulheres configurou-se desde logo uma possibilidade a ponderar e que
ficou em aberto.
A minha experiência biográfica, contra a corrente da cultura
colonial dominante no fim do Império português, pode ajudar a clarificar o que veio a ser a minha escolha do terreno. Porquê Angola, porquê as mulheres combatentes? A experiência tem este carácter vinculativo. Como diria Malinowski, «… eu estava lá!», numa guerra que uns chamam Luta de Libertação e outros, colonial, dois lados de uma mesma guerra, na qual não estive ao lado do meu país, mas sim ao lado dos angolanos que lutavam por libertar o seu país da ocupação portuguesa.
A antropóloga e escritora portuguesa Margarida Paredes viveu parte da sua juventude em Luanda e ao longo da sua vida foi-se cruzando intermitentemente com Angola. Abandonou os estudos na Europa para lutar pela independência ao lado do MPLA, fez treino em Brazzaville e foi uma das primeiras militantes provenientes do Congo a entrar em Luanda após o 25 de Abril. Depois da independência trabalhou no Conselho Nacional de Cultura com o poeta António Jacinto. Regressou a Portugal em 1981.
Mais tarde voltou a estudar: com formação em Estudos Africanos, a tese de doutoramento em Antropologia seria sobre as mulheres guerrilheiras angolanas. Actualmente é investigadora e professora na Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil e no pós-doutoramento trabalhou sobre “Mulheres Afrodescendentes da Polícia Militar em Salvador”. Como romancista escreveu O Tibete de África.
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Ficha Técnica
Copyright: © Margarida Paredes/Mayamba Editora, 2022
Título: Combater Duas Vezes – Mulheres na luta armada em Angola
Autora: Margarida Paredes
Colecção: Biblioteca da História
Editor: Arlindo Isabel
Edição: Mayamba Editora, Lda.
Rua da Liga Nacional Africana, n.º 13
Município de Luanda — Luanda-Sul/Angola Caixa postal 3462
Telefone (+244) 931930264 | 918 240 318 | 927 648 964 | 911 564 614
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Site: www.mayambaeditora.com
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Design: Luciano de Paula Almeida
Fotografia da capa: Arq.º João Nunes
Impressão e acabamento: Gráfica Imprimarte
1.ª edição: Luanda, Agosto de 2022
Tiragem: 1000 exemplares
Depósito Legal: 8690/2018
ISBN: 978-989-761-197-1
A presente edição segue a grafia do novo Acordo Ortográfico
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