Com este livro pequeno, dirigido sobretudo aos mais pequenos leitores (crianças, pré-adolescentes, adolescentes), sem excluir o alvo dos graúdos, as autoras conseguem alcançar três metas, que me parecem implícitas ao seu modo de articular os discursos.
Em primeiro lugar, a vontade de homenagear (a poesia de) Agostinho Neto, escolhendo 10 textos para servirem de mote, dos mais conhecidos do poeta da pátria (todos são conhecidos, note-se), agora
que passou o centenário do seu nascimento e que se continua assim a celebrar. Reavivar, manter a memória!
Segundo, elaborar contos, estórias, causos (como dizem os brasileiros), missosso, para trazer as tradições orais de narrar até à actualidade e às novas gerações, entrando de rompante pelas escolas adentro (que assim seja). Haja impulso dos professores e do
Ministério respectivo para que a leitura se espalhe como um fogo bom. Leitura obrigatória para o ensino básico, pelo menos.
Terceiro, torna-se muitíssimo avisada esta estética de literatura amarrada a uma ética da educação e do ensino para as tradições e a cidadania da igualdade, fraternidade e honestidade. É preciso que a criançada e os adolescentes integrem na sua consciência – enquanto ainda é tempo – um modo cultural que, nas cidades do país, e, depois, por todo o lado, tenderá a desaparecer, tão logo a urbanidade, as tecnologias e a hipermodernidade tomem conta das mentes, globalizando o imaginário e os sonhos de desejar.
As autoras quiseram prosseguir na esteira (no luando) dos predecessores imediatos (Óscar Ribas, Raúl David, António Fonseca e outros) ao espalhar a semente boa dos provérbios, parábolas, fábulas e alegorias, para contar, encantar e ensinar o casamento da revolução independentista com a tradição memorial. Quer dizer que as modernas pedagogia e didáctica unem-se para lançar as mensagens sob a forma de signos que exprimem lições mais amplas do que as frases, que exigem compromissos com a construção de um país a haver.
Daí que se possa ler um conjunto muitíssimo agradável e instigante, de sabor altamente moralizante, de estórias aparentemente simples e directas, mas que trazem consigo possibilidades de interpretações variadas e complexas, com ensinamentos para a vida prática, para a prática das boas atitudes e do bom entendimento do que deve ser uma sociedade que, escutando o oráculo à sombra da mulemba tradicional ou à luz dos sinais de satélite, possa iluminar as consciências desesperadas e desesperançadas. Tarefa urgente, difícil e delicada – apelar à tradição, de Agostinho Neto e dos ancestrais – , nestes tempos de aceleração e consumismo, de egocentrismo e futilidades, das modernices e mundanidades mais execráveis, em que a riqueza do país se escapa por entre os dedos de quem (não) trabalha e não vê um futuro radioso.
Pires Laranjeira
Universidade de Coimbra (CLP/FCT)
Bratislava-Budapeste-Coimbra, Junho de 2023.
DOMINGAS MONTE (Domingas Henriques Monteiro) é Licenciada Línguas e Literaturas Africanas pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto e mestre em Estudos Literários Culturais e Interartes pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Actualmente, é directora-geral do Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas (INICC) do Ministério da Cultura e Turismo, docente da Faculdade de Humanidade da Universidade Agostinho Neto (tendo ensinado também nas Universidades Jean Piaget e Metodista de Angola), e presidente da Associação Mwelo Weto-Nosso Portal, além de youtuber nos canais:” Caminhos da Literatura com Domingas Monte ” e “Matabicho dos Pequenos”.
De sua autoria, os livros infanto-juvenis O Gelado de Múkwa da Mamita (2014) e O sapo Azul (2020), e o ensaio A Canção Kongo e Ovimbundu – Tradições e Identidades (2019). Pela Mayamba publicou Kyese (2023), A Gruta de Marfim (2023) e a Idade da Memória (2023) em co-autoria com Luísa Fresta e com Ilustrações de Júlio Pinto.
LUÍSA FRESTA assina, desde 2012, crónicas e artigos de opinião em jornais culturais, revista e blogues de Angola, Portugal e Brasil. Já publicou em Portais culturais de outros Países (Moçambique, Cabo Verde e Senegal) Traduziu para francês O Homem Encurralado e Esplanado do Tempo (Germano Xavier/ Penalux). Ilustrou o poemário infanto – juvenil Doutrina dos Pitós (Lopito Feijóo/ Editorial Novembro).
Obras publicadas: 49 Passos/Entre os Limites e o Infinito(poesia), Chiado Editora;
Contexturas (contos baseados em quadros de Armanda Alves, co-autora), Livros de Ontem, 2017; Março entre Meridianos (poesia, 1.º prémio “Um Bouquet de Rosa para Ti”) MAAN, 2018 e Livros de Ontem, 2019 (Reedição); A Fabulosa Galinha de Angola (infanto-juvenil), Editorial Novembro, 2020; Sapataria e Outros Caminhos de Pé Posto(contos), Editorial Novembro, 2021; Burro, Sim Senhor! (infanto-juvenil), Editorial Novembro, 2021; e Casa Materna (poesia), Editorial Novembro, 2023.
JÚLIO PINTO é cartoonista e ilustrador. Natural de Luanda/Angola, estudou Desenho, Banda Desenhada, Animação 2D, Edição e Grafismos em Olindomar Estúdio (Angola) bem como Artes Visuais no ISCE ( Instituto Superior de Ciências da Educação), no Porto (Portugal).
Copyright: © Domingas Monte|Luísa Fresta|Mayamba Editora,2023
Colecção: Omõla-Umalehe
Título: A Idade da Memória - Contos infantis inspirados na poesia de Agostinho Neto
Autoras: Domingas Monte|Luísa Fresta
Prefácio: Professor Pires Laranjeira
Ilustrações: Júlio Pinto
Editor: Arlindo Isabel
Revisão: Palmira Simões e Vera Saldanha
Design: Carlos Roque
Impressão e Acabamento: UNIMATER
Tiragem: 1000 exemplares
Depósito legalnº 11795/2023
ISBN: 978-989-761-467-5
Edição:
MAYAMBA EDITORA
Rua da Liga Nacional Africana, nº 13
Município de Luanda - Luanda-sul/ Angola Caixa Postal 3462
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